Patrimônio histórico
Pelo uso criativo, o restauro e a revitalização do Castelo Simões Lopes
Prédio é o primeiro a ser contemplado pela legislação pelotense que concede administração do patrimônio para a iniciativa privada mediante contrapartida para o bem e para a sociedade
Jô Folha -
De uma construção histórica abandonada, alvo de depredações e da comprometedora ação do tempo, para um prédio recuperado, revitalizado e transformado em um espaço para projetos culturais abertos à comunidade. Esta é a expectativa do Poder Público para o Castelo Simões Lopes, o primeiro beneficiado da lei de uso criativo, que autoriza o Executivo a conceder permissão administrativa temporária do patrimônio histórico e cultural à iniciativa privada, mediante contrapartida para o imóvel e à sociedade. O processo licitatório foi aberto pela Secretaria de Cultura de Pelotas (Secult) e o vencedor da concorrência deverá ser conhecido no final do próximo mês.
Por não ter sido contemplado em programas de restauro como o Projeto Monumenta e o PAC Cidades Históricas ao longo dos últimos anos, e também pelo alto custo da obra, cerca de R$ 5 milhões, o certame é a aposta da prefeitura para revitalizar o prédio histórico. "Acabou sendo priorizado o Centro Histórico, o que deixou de fora espaços como a Baronesa, por exemplo, e o Castelo", explica o secretário de Cultura, Giorgio Ronna. Ao mesmo tempo, houve pessoas que manifestaram interesse em utilizar o prédio, levando a Secretaria a repensar o modelo de administração do patrimônio para que pudesse abranger uma parceria do município com entidades e instituições. O estudo de gerência de outras cidades brasileiras caminhou para a elaboração de uma proposta considerada por Ronna inovadora. "Levamos cerca de um ano estudando e elaborando este modelo de gestão do patrimônio que irá contemplar prédios em estágio avançado de degradação, onde enfrentamos dificuldades financeiras para a manutenção."
De acordo com a legislação aprovada no início deste ano, as entidades interessadas na concessão de uso do prédio, pelo período de 15 anos prorrogáveis, deverão apresentar um anteprojeto de restauro e as intenções de ocupação, dentro da modalidade de projetos culturais. Conforme a arquiteta da Gerência, Memória e Patrimônio Cultural, Liciane Almeida, que integrou a elaboração da concorrência, o Castelo será o primeiro a ser beneficiado dentre outros imóveis que se encaixam na especificação da lei e que estão sendo, atualmente, levantados e avaliados pela prefeitura.
Paredes cheias de memória
- Projetado para ser a casa de Augusto Simões Lopes, o filho mais novo do Visconde da Graça, importante charqueador pelotense e tio do escritor João Simões Lopes Neto, o Castelo foi erguido entre 1920 e 1922, na antiga Estância da Graça, que depois virou bairro e ganhou o nome do escritor, o autor de Contos gauchescos.
- O Castelo foi o centro das reuniões de autoridades e políticos da época, tendo recebido Washington Luís e Getúlio Vargas.
- Em 1991 foi adquirido pelo Executivo e passou a abrigar o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), mas o imóvel acabou sendo interditado em 2009.
- Em 20 de julho de 2012 o imóvel foi inscrito no Livro Tombo do Iphae-RS.
As características do local
- A edificação, construída no centro do terreno, apresenta torres, ameias e terraços. Lembra os antigos castelos medievais. Conforme relato dos descendentes, o projeto e a construção foram do arquiteto alemão Fernando Rullmann, mas o proprietário fez inúmeras alterações no decorrer das obras. A estrutura é de cimento armado, uma novidade para a época, e as paredes são em alvenaria de tijolos.
- A edificação possui dois pavimentos e porão habitável, que era destinado à adega de vinhos e acomodações para empregados. No térreo havia espaços de convívio e dormitórios, e no pavimento superior encontravam-se os demais dormitórios, banheiros e escritório, com acesso a amplos terraços.
- O Castelo Simões Lopes teria sido a primeira casa a ter calefação em Pelotas, com uma fornalha a carvão e lenha localizada no porão e radiadores em todas as peças.
- Uma intervenção urbana significativa para Pelotas foi a criação do bairro Simões Lopes, em 1914, quando a cidade ultrapassou os limites da ferrovia. O traçado regular característico da cidade foi mantido, destacando-se a chamada "cidade nova", vila operária construída em frente à estação férrea, o campo do Grêmio Esportivo Brasil, fundado por Augusto Simões Lopes, duas praças públicas e sua residência. O castelo foi a primeira edificação de grande porte construída no bairro, destacando-se ainda hoje na malha urbana.
Fonte: Iphae - Processo de tombamento e arquivos
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